A EXPRESSÃO DA MODALIDADE EPISTÊMICA E DA EVIDENCIALIDADE EM TERMOS DE DEPOIMENTOS DE CASOS DE FEMINÍCIDIO
Gramática Discursivo-Funcional. Evidencialidade. Modalidade Epistêmica. Termo de depoimento em casos de feminicídio. Efeitos de Verdade.
A presente pesquisa tem por objetivo descrever e analisar, a partir da perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008), os aspectos referentes ao Nível Interpessoal, Representacional e Morfossintático da Evidencialidade e da Modalidade Epistêmica em Termos de depoimento de inquéritos policiais em casos de feminicídio. Metodologicamente, utilizamos dois inquéritos policiais de casos de feminicídio disponibilizados pela 3° Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Fortaleza. Para a análise, utilizamos como critérios de investigação aspectos referentes ao Componente Contextual e aos Níveis Interpessoal, Representacional e Morfossintático do Componente Gramatical da GDF. Para a investigação dos dados quantitativos, utilizamos o programa SPSS (versão 7.5 para Windows). A categoria contextual demonstra que, no caso dos parentes das vítimas, que depõem com o propósito de “fazer justiça”, as marcas evidenciais parecem prestar-se a fundamentar o discurso com informações pautadas em fatos presenciados ou amplamente compartilhados cujas fontes, por estarem explícitas, podem ser facilmente atestadas, confrontadas. No caso do depoimento dos familiares do acusado, a frequência menor de uso da Evidencialidade, pode sugerir uma tentativa de descomprometimento. No Nível Interpessoal, verificamos que a Ilocução, na forma de sentença tipo declarativa, é a mais recorrente no corpus, podendo, ainda, verbos performativos serem correlacionados à EV. No Nível Representacional, constatamos que a Evidencialidade constitui o domínio funcional mais frequente no corpus, com predomínio da Reportatividade, que se sobrepõe em relação aos outros subtipos evidenciais, o que tem relação com a natureza composicional do gênero analisado, revelando grau baixo de efeito de verdade. No que se refere à Modalidade Epistêmica, observamos que o subtipo subjetivo se sobrepõe em relação ao subtipo objetivo, demonstrando que os depoentes tendem a revelar seu comprometimento com o conteúdo de suas proposições modalizadas. No Nível Morfossintático, os dados apontam que os evidenciais e os modalizadores epistêmicos tendem a ser expressos com mais frequência por meio de verbos factivos e cognitivos, na forma de uma Expressão Linguística e na posição medial, demonstrando uma tendência para o padrão não marcado da língua. Essas escolhas linguísticas parecem estar ligadas ao tipo de relação social, à natureza declarativa do gênero, ao grau de comprometimento dos depoentes diante das proposições relatadas.