A INVENÇÃO DO CEARÁ CIVILIZADO: A INVISIBILIZAÇÃO DAS POPULAÇÕES NEGRAS NOS DISCURSOS INTELECTUAIS (1887-1903)
Invisibilização; População Negra; Identidade; Intelectuais; Ceará.
A presente pesquisa visa contribuir com as discussões sobre o processo de invisibilização da população negra com o intuito de romper com as narrativas ainda tão presentes no imaginário cearense. Discutiremos de que modo a criação de uma identidade negativa (identidade atribuída), proposta por Kabengele Munanga (1994), tem relação com o processo de invisibilização da população negra, essa análise também se apoiará na discussão feita por Achille Mbembe (2014) sobre a inferiorização do negro. Para realizar a análise da invisibilização e do processo de inferiorização do negro nos apoiamos em autores como: Nilma Lino Gomes (2005), Wlamyra Albuquerque (2009), Roberto Damatta (1981), Antonio Vilamarque Carnaúba (2006), Janote Pires Marques (2013), Paulo Henrique de Souza (2012), dentre outros. Procuraremos evidenciar a exclusão e inferiorização da população afro-cearense por meio dos discursos oficiais da elite intelectual, principalmente nos documentos publicados e presentes no Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará por entendermos que essa instituição foi um dos meios que contribuíram para esse processo. Será utilizado o método de análise de conteúdo proposto pela autora Laurence Bardin (1977) com a intenção de interpretar se as “comunicações” emitidas nos documentos representaram um mecanismo de “informação” e inferiorização dessas populações. A delimitação temporal da pesquisa terá como recorte o ano de 1887, ano de fundação do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, porém é necessário explicitar que em alguns momentos nos direcionamos para períodos anteriores a esse recorte que também vai até 1903, ano do tricentenário do Ceará em que o Instituto Histórico produziu textos referentes à formação da região. O estudo concluiu que a invisibilização da população negra ocorreu atrelada à inferiorização e dentro de uma percepção hierarquizada e racializada dos intelectuais do IHC e que a própria caracterização “heroica” de figuras como Martim Soares Moreno são exemplos de uma “predileção invisibilizadora”.