AS NARRATIVAS DE INFÂNCIA EM CONTEXTO DE GUERRA - ANGOLA E GUINÉ-BISSAU
Literatura. História. Guerra civil. Violência. Infância. Angola. Guiné-Bissau
Este trabalho tem como objeto de estudo duas novelas africanas em língua portuguesa enredadas na história do pós-independência em Angola e Guiné-Bissau: A bicicleta que tinha bigodes: estórias sem luz elétrica, do angolano Ondjaki (2015a ) e Comandante Hussi, do cabo-verdiano Jorge Araújo (2006). O objetivo é compreender, de maneira interdisciplinar, as manifestações de violências e representações de infâncias que se revelam por meio do discurso literário nos contextos históricos, políticos e sociais das décadas de 80 e 90 do século XX, tendo em conta as novas configurações sociais instauradas depois da independência em Guiné-Bissau e Angola. Partindo das temáticas que as narrativas têm em comum: a guerra civil e seus desdobramentos, como medo, violência, carência; e a infância, simbolizada pelas bicicletas, os trabalhos de Mahmood Mamdani (2016), Frantz Fanon (1968), Homi Bhabha (1998), Édouard Glissant (1995) e António Cândido (2010), norteiam a nossa perspectiva. Em hipótese, a pesquisa procura demonstrar que o silêncio é um dos meios pelo qual a violência se manifesta e traz à tona as configurações sociais e rastros de violências que, após os desejos utópicos projetados durante a luta de libertação, afloraram ainda mais nos contextos de guerra civil depois da independência. A guerra civil configura os espaços e brincadeira, na qual notamos através do amadurecimento das crianças em seus comportamentos que os modifica psicologicamente e fisicamente, as tomadas de consciência sobre a guerra e os artifícios de proteção e de defesa usados pelas personagens para preservar a infância em contexto de violência de guerra civil pós independência em Guiné e Angola.