Cultura e poder em Casamansa: uma leitura sobre a bibliografia colonial da região
Cultura; Poder; Casamansa; Boletim Cultural
Nos últimos tempos tem aumentado estudos em relação a costa da África ocidental no que tange suas culturas, políticas, economia, tanto nos períodos antes da presença árabe e europeia no continente, quanto nos períodos pós-coloniais. Nossa pesquisa vem nesta perspectiva de estudar a região de Casamansa, localizada hoje na República de Senegal como parte importante na construção da identidade regional de Senegâmbia. Entendemos que umas das formas privilegiadas para a compreensão das culturas e vivências de vários grupos étnicos que ali vivem é um olhar endógeno, no sentido que a oralidade se apresenta como centro de comunicação e de preservação de memória destas sociedades e que o pesquisador local está inserido nesse contexto. Este olhar é um desafio mesmo para os nativos, na medida que muitos documentos consultados sobre a região têm apresentado vazios ou silenciamento que acabam negando o protagonismo da história ao africano em detrimento dos colonizadores e continuam sendo as grandes referencias para a escrita da história da região. Ao analisar, os autores que publicaram no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, os quais tomamos como fontes, percebe-se uma conotação do africano como incivilizado, suas culturas representadas como selvagens na maioria dos casos. Reivindicamos e propomos uma revisão, uma análise crítica dos documentos escritos nestes períodos pelos europeus, que partiam de um olhar de fora das realidades destas sociedades, a partir de um olhar de dentro, referendado pela perspectiva da oralidade. Reconhecemos os avanços que os estudos africanos têm dado desde o final do século XX e é nesta perspectiva que, nossa pesquisa vem complementar neste debate em relação às sociedades africanas e seus grupos étnicos que ao longo dos séculos têm preservados suas culturas, identidades, suas organizações sociais.