AS NARRATIVAS DE INFÂNCIA EM CONTEXTO DE GUERRA - ANGOLA E GUINÉ-BISSAU
Literatura. História. Guerra civil. Violência. Infância. Angola. Guiné-Bissau
Este trabalho tem como objeto de estudo duas novelas com contexto de enredo angolano e Bissau-guineense, a saber, A bicicleta que tinha bigodes: estórias sem luz elétrica, de Ondjaki (2015) e Comandante Hussi, de Jorge Araújo (2009). O foco de atenção neste trabalho parte das temáticas que elas têm em comum: a guerra civil e seus desdobramentos, como medo, violência, carência e, a infância, simbolizada pelas bicicletas e brincadeiras. Portanto, o objetivo é compreender, de maneira interdisciplinar, as manifestações de violências e representações de infâncias que se revelam por meio do discurso literário no contexto histórico das décadas de 80 e 90 do século XX: implica considerar as dinâmicas sociais e políticas de ambos os países. Sendo assim, a analise comparativo é o principal método para averiguar à aproximação da Literatura com a História - são fundamentais para compreendermos como essas vozes, através do olhar infantil, abordam esses temas nas duas obras literárias. Para isso, os trabalhos de Mahmood Mamdani (2016), Frantz Fanon (1968), Homi Bhabha (1998), Édouard Glissant (1995) e António Cândido (2010), norteiam a nossa perspectiva. Em hipótese, tal leitura revela que o silêncio é um dos meios pelo qual a violência se manifesta e trazem à tona as configurações sociais, do universo infantil, presente nas obras. A guerra civil reconfigura os espaços e brincadeiras, os quais modificam fisicamente e psicologicamente os personagens, de modo que a vida tem que ser seguida, enquanto a guerra segue seu fluxo. Assim como levarmos em conta que a infância é uma construção social, isto é, as concepções sobre a infância são as mais variadas possíveis, pretendemos traçar um balanço de como ela é abordado na literatura guineense e angolana em especial como o narradores constroem esses personagens infantis que vivem em contexto de violências.