IDENTIDADE E VIOLÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO GUINEENSE: UMA LEITURA DAS NARRATIVAS DE ABDULAI SILA
Identidade. Violência. Política. Guiné-Bissau. Literatura. Memória.
Este trabalho tem como objeto de estudo quatro dos romances do escritor guineense Abdulai
Sila (1958-), a saber, Eterna paixão (1994), A Última Tragédia (1995) e Mistida (1997) -
correspondentes ao que o próprio Sila denomina de trilogia -, mais Memórias SOMânticas
(2016). A escolha destas obras atende, conforme sua composição narrativa, à representação
metafórica e diegética da construção histórica da identidade nacional guineense,
continuamente atropelada por diversos matizes e ciclos de violências. Acreditamos que estes
romances correspondem à representação dos diferentes períodos da história mais recente de
Guiné-Bissau, retratando, precisamente, a colonização, as lutas pela independência e a
situação pós-independência. As narrativas de Sila nos proporcionam, com efeito, uma
investigação extensiva para que se possa compreender as persistentes atualizações de
violências na formação da identidade nacional guineense, antes e pós-independência. Para
isso, na perspectiva dos estudos culturais e da abordagem interdisciplinar, os nossos aportes
teóricos e analíticos voltam-se ao prisma dos estudos pós-coloniais, decoloniais e africanos.
Nessa concepção, para além da denúncia ao colonialismo e às tentativas de invisibilização
das identidades culturais autóctones, é necessário se levar em conta o entrecruzamento entre o
discurso histórico e o ficcional, haja vista que a proposta silariana da construção da
identidade guineense se configura pelo pressuposto do hibridismo entre o tradicional e o
moderno. As narrativas de Abdulai Sila caracterizam-se, portanto, como metáfora de
construção histórica da identidade nacional guineense, assinalando as suas diversas faces de
violências, em suas múltiplas dimensões políticas, culturais e sociais.