IDEOLOGIA DO ÓDIO SOCIAL E AGENDA ECONÔMICA: análise do discurso crítica da sessão parlamentar do impeachment de Dilma Rousseff
Estudos Críticos do Discurso. Manipulação Ideológica. Cognição Social. Ódio e Afetos Morais. Agenda econômica.
Esta pesquisa propõe-se a empreender a análise crítica dos pronunciamentos em razão dos votos favoráveis à admissibilidade da denúncia de crime de responsabilidade da Presidenta da República, emitidos na Sessão do Plenário da Câmara dos Deputados de 17 de abril de 2016. O objetivo é o de investigar a relação entre a manipulação cognitiva de afetos sociais e a disputa de agendas econômicas, encerrada nas intenções dos pronunciamentos desses parlamentares votantes. Partimos da hipótese de que tais pronunciamentos se integram à conformação de uma espécie de populismo moral, como insumo ideológico a serviço do consenso hegemônico e conservador - em torno da defesa e da aprovação de uma agenda econômica específica. Para o tratamento teórico-metodológico da análise desta hipótese, adotamos, como base, a abordagem crítico-discursiva e sociocognitiva dos estudos de Teun van Dijk (2008). Três aspectos perfazem a pesquisa: i) teórico-conceitual; ii) metodológico e iii) analítico. No primeiro, consideramos a relação entre discurso político, cognição política e manipulação ideológico-afetiva da cognição social, a partir do aporte dos estudos de van Dijk (2008), e abordamos os estudos sobre pathos, a partir da pesquisa de Charaudeau (2005). Sob esse aspecto, importa-nos ainda a presumida estrutura cognitiva dos receptores dos discursos, em conformidade com Charaudeau (2005, 2016, 2010) bem como as possíveis articulações de interesses e disposições entre as classes econômica e política, de acordo com Alysson Mascaro (2018), Jessé Souza (2016, 2017), e Ladislau Dowbor (2017). No enfoque metodológico, específico à caracterização do procedimento da pesquisa e de suas categorias de análise, recorremos às concepções dos Estudos Críticos do Discurso (ECD), também em van Dijk (2008), relacionando-as ao tratamento dos pronunciamentos em uma perspectiva quantitativo-categorial e qualitativo-analítica. Por fim, no momento então analítico, submetemos o corpusa uma análise sociocognitiva, com foco na identificação de estruturas e estratégias discursivas e contextuais que, conforme van Dijk (2008; 2011), influenciam representações mentais individuais e socialmente compartilhadas em torno do compromisso com uma agenda econômica específica. A ação de diversos dispositivos discursivos, agindo em uma dupla perspectiva - de hostilização moralmente paradigmática, associada a grupos constituintes de determinado espectro político, e de exaltação de um Éthos conservador - possibilitou, conforme a nossa análise, a construção do cenário propício ao impeachment da então Presidenta Dilma Rousseff, em agosto de 2016. Toda a estratégia discursiva de acusação e de imprecação moral, associada à presumida representação mental dos receptores, buscou a conformação de arquétipos de valores e costumes - como específica visão conservadora de mundo: rejeitada consecutivamente nos últimos quatro pleitos eleitorais.