MANIPULAÇÃO DO ÓDIO SOCIAL E AGENDA ECONÔMICA: ANÁLISE DO DISCURSO CRÍTICA DOS VOTOS FAVORÁVEIS AO IMPEACHMENT NA SESSÃO PARLAMENTAR DE 17 DE ABRIL DE 2016
Discurso. Estudos Críticos do Discurso. Discurso político. Manipulação. Cognição Social. Ethos. Afetos. Moral. Conservadorismo. Agenda econômica.
Esta pesquisa parte da análise crítica dos pronunciamentos em razão dos votos parlamentares favoráveis à admissibilidade da denúncia de crime de responsabilidade da Presidenta da República, emitidos na Sessão do Plenário da Câmara dos Deputados de 17 de abril de 2016. O objetivo é o de investigar a relação entre a manipulação discursiva de afetos sociais e a disputa de agendas econômicas, encerrada nas intenções dos pronunciamentos desses parlamentares votantes. Partimos da hipótese de que tais pronunciamentos se integram à conformação de uma espécie de populismo moral, como insumo ideológico a serviço do consenso hegemônico e conservador - em torno da defesa e da aprovação de uma agenda econômica específica. Para o tratamento teórico-metodológico da análise desta hipótese, adotamos, como base, a abordagem crítico-discursiva e sociocognitiva dos estudos de Teun Van Dijk (2017a). Três aspectos perfazem a macroexposição da pesquisa: i) teórico-conceitual; ii) metodológico e iii) analítico. No primeiro, consideramos a relação entre discurso político, cognição política e manipulação, tanto em Van Dijk (2017a) quanto nos estudos sobre pathos, em Charaudeau (2017). Sob esse aspecto, importa-nos ainda a presumida estrutura cognitiva dos receptores dos discursos, em conformidade com Jessé Souza (2017) e Jonathan Haidt (2012), bem como as possíveis articulações de interesses e disposições entre as classes econômica e política, de acordo com Alysson Mascaro (2018), Jessé Sousa (2016), e Ladislau Dowbor (2017). No segundo momento, de enfoque metodológico, específico à caracterização do procedimento da pesquisa e de suas categorias de análise, recorremos às concepções dos Estudos Críticos do Discurso (ECD), também em Van Dijk (2017a), relacionando-as ao tratamento dos pronunciamentos em uma perspectiva quantitativo-categorial e qualitativo-analítica. Por fim, no terceiro momento, então analítico, submetemos o corpus - excertos desses pronunciamentos - a uma análise sociocognitiva, com foco na identificação de estruturas e estratégias discursivas e contextuais que, igualmente conforme Van Dijk (2017a; 2017b), influenciam representações mentais individuais e socialmente compartilhadas em torno do compromisso com uma agenda econômica específica. A ação de diversos dispositivos discursivos, agindo em uma dupla perspectiva - de hostilização moralmente paradigmática, associada a grupos constituintes de determinado espectro político, e de exaltação de um Éthos conservador - possibilitou, conforme a nossa análise, a armação do cenário propício ao impeachment da então Presidenta Dilma Rousseff, em agosto de 2016. Toda a estratégia discursiva de acusação e de imprecação moral, associada à presumida representação mental dos receptores, buscou a conformação de arquétipos de valores e costumes - como específica visão conservadora de mundo: rejeitada consecutivamente nos últimos quatro pleitos eleitorais.