A relação Universidade e Sociedade em comunidades com conflitos ambientais: um
estudo da ação das universidades na comunidade do Tomé, Chapada do Apodi-CE
Universidade; Comunidades camponesas; Conflitos ambientais; Justiça
ambiental; Transformação social.
Desde a década de 1980, o Brasil tem passado por um processo de reprimarização da
economia que denota em um avanço das fronteiras de acumulação capitalista sobre os
territórios camponeses, gerando injustiças e conflitos ambientais. O quadro de conflitos
e as denúncias por movimentos sociais organizados e por moradores de comunidades
atingidas chamam a atenção de sujeitos das universidades que reagem com uma série de
ações acadêmicas nesses territórios. Como tem se dado essas ações das universidades?
Quais as percepções dos moradores das comunidades e dos pesquisadores, professores e
estudantes das universidades que atuam no contexto dos conflitos ambientais? Quais os
limites, os desafios e as potencialidades dessas ações? Esta pesquisa intenta analisar a
relação Universidade e Sociedade em comunidades com conflitos ambientais, com foco
na ação das universidades na comunidade do Tomé, na Chapada do Apodi, Ceará. Nossa
definição do universo da pesquisa passou pela compreensão de que o conflito instalado
na Chapada do Apodi, situado na macrorregião cearense do Baixo-Jaguaribe, é um caso
representativo dos conflitos ambientais que se multiplicam no país e que a comunidade
do Tomé se transformou no epicentro dos conflitos na região por ser uma das mais
antigas, com maior população e, principalmente, pela atuação de Zé Maria do Tomé,
agricultor e liderança nesta comunidade, assassinado em 2010. Considerando a
perspectiva reflexiva da relação Universidade e Sociedade e a análise sociológica sobre
vida cotidiana, o viés metodológico desta pesquisa fundamentou-se na articulação entre
a pesquisa da produção acadêmica em torno dos conflitos ambientais e, mais
especificamente, dos conflitos na região da Chapada do Apodi, na observação
participante, no registro etnográfico e em entrevistas semiestruturadas. Tomamos por
hipótese que os sujeitos envolvidos nas ações das universidades nos contextos de conflitos
ambientais acabam por tensionar a Universidade no sentido de mudanças em sua
concepção, em suas percepções da realidade social, em sua práxis, e, desse modo, este
trabalho possui relevância à medida em que oferece reflexões sobre uma Universidade
que pode se comprometer efetivamente com as transformações sociais na direção da
liberdade, da justiça social e ambiental, da emancipação do ser humano.