Relações intertextuais de derivação na adaptação de mitos folclóricos como narrativa na série de TV Cidade Invisível
Relações Intertextuais; Derivação Narrativa; Prequela; Lacuna Intertextual; Adaptação Audiovisual.
A pesquisa analisa as relações intertextuais de derivação na adaptação dos mitos folclóricos da Cuca, da Iara, do Saci e da Maria Caninana, conforme apresentados no Abecedário de personagens do folclore brasileiro (Alves, 2017), para a série Cidade Invisível (Netflix, 2021/2023). A investigação é motivada pela inovação narrativa da série ao inserir esses mitos em uma trama que articula investigação policial e suspense sobrenatural, o que enseja movimentos de captação e de subversão do texto-fonte. O objetivo é investigar como os mitos foram adaptados como narrativa para a série, analisando as marcas de intertextualidade e a lacuna intertextual. Trata-se de pesquisa qualitativa e descritiva, cujo corpus reúne 20 cenas transcritas como roteiro audiovisual e examinadas quanto aos elementos da linguagem cinematográfica. A fundamentação teórica se debruça sobre os conceitos de transtextualidade (Genette, 2010) e anacronia (Genette, 1995); de copresença, derivação e referentes intertextuais (Piègay-Gros, 2010); de lacuna intertextual (Bauman; Briggs, 1992); de captação e subversão (Koch; Bentes; Cavalcante, 2007); e sobre a classificação de processos intertextuais proposta por Nobre (2014). Para a análise audiovisual, adota-se Stam (2003) e os modelos de análise fílmica de Vanoye e Goliot-Lété (1994). A hipótese sustenta que os mitos foram adaptados por meio de relações de hipertextualidade e de derivação, manifestando-se como copresenças no texto audiovisual ao serem transformados em narrativas a partir de um texto-fonte não narrativo. As marcas de intertextualidade revelam-se em referentes intertextuais inscritos nos elementos audiovisuais. A lacuna intertextual é maximizada por subversão nos casos de Cuca, Iara e Saci, e minimizada por captação no caso de Maria Caninana, indicando mudança de orientação narrativa de uma temporada para outra. A pesquisa propõe, com base nas constatações preliminares, a subcategoria derivação narrativa, adequada a processos em que uma narrativa é criada a partir de um texto-fonte não narrativo. Propõe também a subcategoria derivação por analepse, voltada à classificação da chamada “prequela” — cena ou obra ulterior que apresenta eventos anteriores ao ponto atual da narrativa —, usada na série para narrar a origem sobrenatural dos mitos. A investigação explora lacunas de pesquisa ao analisar uma adaptação audiovisual sob o viés da Linguística de Texto, refinando categorias intertextuais para classificar com maior precisão fenômenos plurissemióticos.