PERSPECTIVAS SOBRE O SER E O VESTIR DE MULHERES MUÇULMANAS GUINEENSES NO CEARÁ
Mulheres muçulmanas; afroislamismo; fluxos migratórios; Guiné-Bissau; vestuário.
O presente trabalho tem como objetivo geral compreender a relação entre religião e vestuário a partir da experiência de mulheres bissau-guineenses muçulmanas residentes no Ceará, ou que mantêm alguma ligação com esse Estado. Objetivo esse que se desdobra em três questões específicas: a) investigar historicamente a inserção do Islã no contexto brasileiro e cearense bem como no contexto bissau-guineense; b) perceber os impactos do fluxo migratório entre Guiné-Bissau e Brasil no exercício da religião Islâmica, tendo como foco o vestuário e o corpo; e c) examinar as escolhas relacionadas aos usos e não usos do véu islâmico. A pesquisa adota uma abordagem antropológica interdisciplinar, articulando revisão bibliográfica e trabalho de campo etnográfico realizado no Centro Cultural Beneficente Islâmico do Ceará (CCBIC). As entrevistas ocorreram presencialmente — na casa de uma interlocutora e em um restaurante de Fortaleza — e também de forma remota. Os resultados mostram que o Islã em Guiné-Bissau possui especificidades próprias, que influenciam as formas como as mulheres vivenciam a religião. Evidenciam também que as suas experiências religiosas não se organizam prioritariamente em torno do uso do véu, mas dos marcadores de raça, gênero e nacionalidade, que produzem vulnerabilidades no contexto cearense. Além disso, observa-se que a ascensão do fundamentalismo islâmico, como resposta à globalização e à colonialidade, impacta politicamente a vida de grupos minorizados, especialmente as mulheres. Conclui-se que o vestuário funciona como espaço de negociação identitária, articulando religião, corpo e migração em meio a tensões sociais e políticas.