“VOZES DA TRANSFORMAÇÃO: AS ESTRATÉGIAS DE ARTICULAÇÃO DAS MÃES DO BAIRRO PARQUE SANTA MARIA NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA CRECHES EM FORTALEZA – CEARÁ”
Maternidade. Mobilização. Educação infantil. Políticas públicas.
Esta dissertação segue os rastros deixados por um coletivo de mães do bairro Parque Santa Maria, em Fortaleza
– Ceará, que transformaram o luto em ação política. O fio condutor da pesquisa surgiu do encontro com uma
carta escrita por essas mães, anexada à nota técnica do CEDECA Ceará, onde reivindicavam creches seguras
e de qualidade após uma tragédia que ceifou a vida de uma criança em 2018. Essas mulheres se organizaram
como comissão e passaram a costurar, com palavras e presença, uma rede de mobilização que transcendeu a
dor e a tornou verbo de ação. A partir de entrevistas abertas, observação participante e diário de campo, o
trabalho investiga como essas mulheres, historicamente silenciadas, tecem práticas de resistência e
enfrentamento às ausências do Estado, disputando o direito à infância e à dignidade no território. A pesquisa
entrelaça os conceitos de maternidade, luto, território, memória e articulação política, propondo uma leitura
situada e interseccional da mobilização das mulheres periféricas. Ao mapear os impactos dessa luta, o trabalho
identifica conquistas simbólicas e concretas, como a criação de novos centros de educação infantil, a reforma
de unidades escolares precárias e o fortalecimento das redes comunitárias. A judicialização da causa, com a
Ação Civil Pública proposta pelo CEDECA e Ministério Público, e a ampliação das vagas em creches na
cidade, evidenciam que a articulação das mães produziu efeitos reais nas políticas públicas locais. Mais do
que descrever resultados, esta dissertação se propõe a ouvir, interpretar e narrar um processo de transformação
coletiva. O fio de Ariadne, que guiou a pesquisadora em seu percurso, se desenrola aqui como metáfora da
escuta, da memória e da resistência, compondo um tecido político feito de afetos, ausências, conquistas e
esperanças. Ao final, as vozes das mães do Parque Santa Maria não apenas ecoam por justiça, mas costuram
outras formas de existir e resistir nas brechas do cotidiano.