DIÁLOGOS ENTRE CONHECIMENTOS TRADICIONAIS E CIENTÍFICOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS: A EXPERIÊNCIA DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA MUNICIPAL JOSÉ MARIA DE CASTRO NA COMUNIDADE DE BAÚ (GUAIUBA – CEARÁ – BRASIL)
Palavras-chave: Conhecimentos tradicionais. Conhecimentos científicos. Ensino de Ciências. Plantas Medicinais.
O ensino de Ciências, ainda hoje, é frequentemente pautado em questões desconectadas da realidade, abordadas de maneira abstrata e distante das experiências presentes no contexto de vida dos estudantes. Esse tratamento didático dificulta, dessa maneira, a compreensão dos conteúdos e o interesse dos alunos pela área. A estrutura curricular, nesse sentido, reforça a cisão entre teoria e prática presente na racionalidade técnica que se originou no pensamento moderno de ciência, pautado no positivismo e, ainda, no colonialismo. A partir dessa perspectiva epistemológica, que é também política, a escola tende a se manter isolada e desvinculada da comunidade na qual está inserida, de suas raízes históricas e ancestrais, das tradições e saberes populares. A partir do questionamento desse modelo de educação, a escola passou a ser entendida como espaço político, social e cultural que deve contemplar a diversidade epistemológica nela presente e a partir do diálogo com ela enriquecer o processo educativo. Essa nova perspectiva visa a superação da fragmentação curricular que impede a articulação entre o aprendizado em Ciências e a construção identitária dos alunos, tanto em sua dimensão coletiva quanto individual. Diante desse cenário, a presente dissertação tem como objeto de investigação as relações entre os conhecimentos tradicionais e o ensino de Ciências no município de Guaiuba-CE, mais especificamente na comunidade Baú, na Escola de Educação Básica Maria de Lourdes Pereira, objetivando discutir os limites e possibilidades da abordagem dos saberes tradicionais sobre as plantas medicinais como ferramenta pedagógica no ensino de ciências. O estudo, de abordagem qualitativa, inspirado na pesquisa participante, terá como sujeitos quatro professores dos anos finais do ensino fundamental e um rezador que atua nesse território. As estratégias de aproximação com a realidade utilizadas foram a revisão de literatura, a observação participante, a análise documental e entrevistas. A análise dos dados realizada a partir dos contributos de Bardin (2012) aponta que, apesar dos desafios vividos pelos professores de ciências, que envolvem condições de trabalho e visões tradicionais de currículo, iniciativas de estabelecimento de diálogo entre saberes científicos e tradicionais vêm se materializando. Tais iniciativas, pautadas em uma perspectiva decolonial, têm o potencial de contribuir com a emancipação dos sujeitos, com o fortalecimento de suas identidades, com a preservação da cultura e expansão da visão de mundo.