Mulheres negras no divã: um estudo antropológico da vida afetiva de quatro mulheres negras
Antropologia do corpo; Raça; Gênero; Subjetividade
Esta dissertação investiga as opressões interseccionais de raça, gênero e classe na vida afetiva de mulheres negras. A pesquisa, cujo tema surgiu da observação na clínica psicanalítica, parte da premissa de que o racismo, o machismo e a homofobia geram sofrimentos específicos e traumáticos que se manifestam intensamente nas relações amorosas e familiares desse grupo. O objetivo central é analisar, através das narrativas de quatro jovens mulheres negras cisgênero – com sexualidades autoatribuídas como heterossexual, bissexual, pansexual e lésbica –, de que forma essas estruturas de poder impactam suas trajetórias amorosas e qual o custo para sua saúde mental e física. Metodologicamente, o estudo baseia-se em entrevistas semiestruturadas com essas interlocutoras, todas da classe média baixa e com ensino superior, complementadas por dados contextuais de seu acompanhamento terapêutico, sempre com consentimento e anonimato preservados. Sustentada pelo referencial teórico do feminismo negro, que permite compreender a sobreposição das opressões, e pela Antropologia do corpo, que discute a significação social do corpo negro, a análise integra a Psicanálise para acessar a dimensão subjetiva do trauma. Os resultados demonstram que a rejeição e o desrespeito são experiências centrais quando essas mulheres transgridem o padrão social branco, hétero e feminino, especialmente ao se recusarem a obedecer a scripts normativos em relacionamentos. A dissertação conclui, portanto, evidenciando a ligação indissociável entre os determinantes sociais e a saúde mental, afirmando que a vida afetiva das mulheres negras constitui um campo privilegiado para observar os danos subjetivos decorrentes do racismo, do sexismo e da homofobia.