“NÃO É SÓ CHEGAR E DANÇAR”: IDENTIDADE E PERTENCIMENTO NA QUADRILHA JUNINA
BABAÇU, DE FORTALEZA, CEARÁ
Quadrilha junina; identidade coletiva; ritual; Junina Babaçu, pertencimento e status.
Esta dissertação tem como objetivo refletir sobre o sentido de identidade coletiva e pertencimento entre os brincantes da quadrilha Junina Babaçu, de Fortaleza, Ceará. Especificamente, busca-se compreender quais elementos associados ao processo de construção do espetáculo da quadrilha contribuem para a adesão dos brincantes à identidade do grupo, como esses elementos são construídos e reforçados durante esse processo e em que medida essa adesão se sustenta. Para isso, foi realizada uma etnografia do processo de construção da quadrilha, abrangendo eventos e ensaios, para a realização do espetáculo “Rogai por Nós”, apresentado em 2024. Em diálogo com uma perspectiva simbólica, me valho, especialmente, de teorias do ritual e da identidade para fundamentar, de forma teórico-metodológica, as observações realizadas. O ritual foi pensado como uma forma de compreender o fazer da Junina Babaçu, em especial como o processo de construção do espetáculo foi estruturado, enquanto as teorias da identidade ajudaram a perceber como a identidade coletiva da quadrilha foi construída simbolicamente nesse processo, bem como a observar como os brincantes vivenciaram essa identidade. Os dados obtidos em campo mostram que a Junina Babaçu se constrói em um ritual que cria sua própria temporalidade e processo. Ela é vivenciada pelos brincantes por meio de disputas e negociações de espaços nas hierarquias internas, realizadas em um sistema de trocas, e constrói um sentido de pertencimento com base na identidade coletiva, formada no campo competitivo das quadrilhas. Essa identidade tem como centralidade a exclusividade, o destaque no meio junino e a profissionalização, trazendo desafios e reconhecimento para seus brincantes. Dessa forma, a realidade da quadrilha Junina Babaçu contribui para as discussões sobre festa, cultura brasileira, estudos do ritual, da identidade e da própria quadrilha junina. Contudo, as reflexões aqui apresentadas não têm a pretensão de estabelecer uma forma fixa ou imutável para pensar os temas abordados, mas sim de apresentar um dos vários caminhos possíveis para refletir sobre eles.