“Partilha do sofrimento e a lógica de extermínio: o ‘caso Luana Barbosa’”
Lesbocídio; Lesbofobia; Ritualística de morte; Luto; Conflito
De 2014 a 2017, 126 lésbicas foram brutalmente assassinadas em território brasileiro, segundo o “Dossiê Sobre Lesbocídio no Brasil – as histórias que ninguém conta” (2017), primeiro registro oficialmente produzido no país, pela iniciativa do Núcleo de Inclusão Social (UFRJ), a ser direcionado à emergência da criação de políticas criminalizadoras da violência contra a mulher lésbica. A violação determinante para a elevação das estatísticas, cunhada pelo documento em evidência como “lesbocídio”, tem em comum com o feminicídio a motivação de matar pelos efeitos da misoginia, porém, possui características diferenciadas devido ao entrecruzamento com o ódio ao comportamento sexual e social, em específico, dessas mulheres, a lesbofobia. Tomando como objeto uma das ocorrências entre as 126 comentadas pelo documento, o trabalho a seguir pretende compreender os elementos discursivos constituintes das versões que abrangem o “caso Luana”, como ficou conhecido o episódio de morte de Luana Barbosa dos Reis Santos, em 2016, no estado de São Paulo, durante uma abordagem da Polícia Militar. Para isso, vale-se do acompanhamento das atividades de grupos organizados em torno do evento, principalmente do engajamento ativista pela causa dos direitos humanos a partir da sensação contínua de luto e do pânico de eventuais repetições do caso. Partindo das histórias e descrições narradas pelas ativistas e familiares, e dos embates movidos pelas rotinas burocráticas e artefatos judiciários por parte da defesa dos policiais, são múltiplas as “apreensões de realidade” que circulam em todos os capítulos deste trabalho. São as falas de protestos contra o processo lento de um “Estado” ora aliado, ora negligente, de um lado e as visões discordantes sobre a presença, atividades e abordagem dos Direitos Humanos na Justiça, de outro. Cabe a esta pesquisa o levantamento e a análise das múltiplas relações laterais aos trânsitos jurídicos que dão coerência e consistência às versões construídas no decorrer dos anos após a morte de Luana Barbosa e, dessa maneira, das diferentes perspectivas instituídas sobre a mesma história de morte.