SEDE ETERNA: AS RELAÇÕES COM OS MORTOS NO POVOADO DEALMAS
Morte; Rituais; Oferenda; Água; Semiárido.
Este trabalho trata das relações que se estabelecem entre vivos e mortos no semiárido
cearense. Tem por objetivo compreender a dinâmica dessas relações a partir das
narrativas de devotos e observadores das cenas rituais de acordo com a lógica
empreendida no povoado de Almas, Cariré–CE. Proponho uma análise interpretativa do
ritual de culto aos mortos, tomando a oferenda como elemento central na instituição das
relações entre vivos e mortos, que resultam em favorecimentos mútuos. Observo a
periodicidade e as significações elaboradas desde a composição da oferenda, em que a
água aparece como símbolo mais recorrente, norteado pela crença na necessidade de
aplacar a sede do morto. O material etnográfico descrito e interpretado foi obtido
durante a pesquisa de campo, no período entre 2018 e 2020, no município de
Cariré–CE. Constata-se que a crença na ação dos mortos sobre a vida cotidiana,
individual e/ou coletiva tem sua identificação na religiosidade adotada pelos devotos,
pois apesar de tratar-se de uma forma de ritual alheio aos preceitos oficiais da religião
em voga no povoado, os praticantes do culto percebem-no como uma expressão do
catolicismo, apontando a fé como base da atividade votiva. Há uma memória ativa na
oralidade do povoado, que atua na transmissão da crença e dos ritos entre gerações.